7 de agosto de 2021

Maria Carolina de Souza
2 min readAug 7, 2021

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é um dia que eu nunca vivi antes. estou na terceira hora do dia e já sei que ele é especial porque nunca poderei vivê-lo depois. nenhum ar será como o que eu respirei hoje. nenhum toque será como o do meu cobertor hoje. nenhuma cama será confortável como a minha está sendo nesse instante (e logo deixará de ser quando o travesseiro afundar com o peso das minhas costas). às 2:18 da manhã eu ouço fogos de artifício cujo significado me escapa e desde já compreendo que nunca mais os ouvirei como hoje. às 2:19 os fogos já cessaram. os motoboys lá foram conversavam e eu não prestei atenção nas suas vozes, mas agora percebo o som do seu silêncio. nenhum som será como o dessa madrugada, mesmo que todos os dias um carro se ligue e comece a andar, e eu sempre me pergunte para onde ele vai. hoje eu não vou para o mesmo lugar que fui ontem. não pegarei o mesmo ônibus, não verei as mesmas pessoas, não darei os mesmos passos. e as conversas de ontem ficaram no passado, de modo que elas nunca se repetirão, mas agora serão novas. mandei mensagem para o meu amigo e percebi que apareceu o quadradinho verde que indica que um novo dia se iniciou porque já passou da meia-noite (faz tempo). mas não faz tanto tempo assim. não sei quantas palavras foram ditas, ou quantos ruídos foram produzidos, ou quantas vezes meu coração pulsou desde que o dia se iniciou. não sei quantas vezes já remoí o erro de ontem, esperando ansiosamente que isso não me afete no futuro. sendo que o futuro é outro dia, outra hora, outro segundo. e nenhum dia é como esse. nenhum instante é vivido como o agora. não sei o que me ocorrerá no minuto seguinte porque compreendo que minha vida está fora do controle das minhas mãos. o que sei é que, enquanto o ar invadir os meus pulmões, ele será o ar mais bonito do mundo e a vida será a mais extraordinariamente ordinária em seus pequenos detalhes. e isso torna o dia 7 de agosto tão especial. e o amanhã mais especial ainda.

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Maria Carolina de Souza
Maria Carolina de Souza

Written by Maria Carolina de Souza

eu nem tenho mais o cabelo loiro, mas essa foto me deixa chique. escrevo sobre a vida, tanto quando ela é boa quanto quando ela é dolorida.

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