debaixo do céu
eu não consigo te ver
a luz é muito fraca
não consigo mais andar
porque estou descalça
e as pedras furam meus pés
os sons das bestas me assustam
e parecem me rodear
como vozes que sussurram
aos meus ouvidos
que nada vai adiantar
que esse esforço não vai adiantar
que essa esperança não vai adiantar
que acordar de novo amanhã não vai adiantar.
debaixo do céu
tudo é muito solitário
sinto que caminho
e ando e ando
mas não tenho um lugar para onde ir
sinto que sigo em frente
até meus pés doerem
meus pulmões arfarem
meu coração se apertar
mas em frente não há nada
não há uma alma viva
que se atente para a minha perdição
que se comova do meu sufoco
que se compadeça da minha fome
de mais.
debaixo do céu
tudo é tão frio
não há mais o calor de um abraço
o som de uma canção
o amor de um amigo
fico a vaguear por todos os cantos do mundo
às montanhas e às sepulturas
aos mares e às alvoradas
como andante e peregrino todos me veem
mas não há um pão que se divida
ou uma palavra doce
todas as culpas debaixo do céu são mantidas
as memórias boas são apagadas
as heranças são malditas
os presentes envenenados
na esperança de um mundo melhor eu caminho
e corro
e corro
e prossigo
como se corresse
atrás do vento.
em ilusões estão enterradas
todas as nossas vaidades
em corrupção padece toda a humanidade
debaixo do céu não há vida
ou esperança de salvação
debaixo do céu o amor se esfria
sem o céu não há
redenção.