Maria Carolina de Souza
2 min readAug 27, 2021

debaixo do céu

eu não consigo te ver
a luz é muito fraca

não consigo mais andar
porque estou descalça
e as pedras furam meus pés

os sons das bestas me assustam
e parecem me rodear
como vozes que sussurram
aos meus ouvidos
que nada vai adiantar

que esse esforço não vai adiantar

que essa esperança não vai adiantar

que acordar de novo amanhã não vai adiantar.

debaixo do céu
tudo é muito solitário

sinto que caminho
e ando e ando
mas não tenho um lugar para onde ir

sinto que sigo em frente
até meus pés doerem
meus pulmões arfarem
meu coração se apertar

mas em frente não há nada

não há uma alma viva
que se atente para a minha perdição

que se comova do meu sufoco

que se compadeça da minha fome
de mais.

debaixo do céu
tudo é tão frio

não há mais o calor de um abraço
o som de uma canção
o amor de um amigo

fico a vaguear por todos os cantos do mundo
às montanhas e às sepulturas
aos mares e às alvoradas

como andante e peregrino todos me veem
mas não há um pão que se divida
ou uma palavra doce

todas as culpas debaixo do céu são mantidas
as memórias boas são apagadas
as heranças são malditas
os presentes envenenados

na esperança de um mundo melhor eu caminho
e corro
e corro
e prossigo
como se corresse
atrás do vento.

em ilusões estão enterradas
todas as nossas vaidades
em corrupção padece toda a humanidade

debaixo do céu não há vida
ou esperança de salvação
debaixo do céu o amor se esfria
sem o céu não há
redenção.

Maria Carolina de Souza
Maria Carolina de Souza

Written by Maria Carolina de Souza

eu nem tenho mais o cabelo loiro, mas essa foto me deixa chique. escrevo sobre a vida, tanto quando ela é boa quanto quando ela é dolorida.

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