diálogo infantil
hora do recreio
— eieiei que que tu tá jogando?
— é free fire, cara,… quer ver?
— tô vendo já, muito obrigado. mas, cara, tu é ruim mesmo. consegue nem atirar direito.
— ihhh quero ver… você fazer… melhor!
— você que não sabe, eu sou bom pra burro nisso. deixa eu ir na outra pra tu ver. eu jogava direto com o kauã.
— e quem que é… kauã?
— kauã era meu melhor amigo.
— achei que o luís que fosse seu melhor amigo.
— ah, o luís é também. mas o kauã é outro melhor amigo. dá pra ter os dois.
— aham… e de onde é o kauã? da tua… rua?
— não não. conheci o kauã no cs. a gente jogou uma junto e eu vi que o cara era brabo, aí a gente começou a conversar pelo discord também.
— hm…
— você tinha que ver. uma vez ele tava cercado e matou uns cinco de uma vez. foi ele que me disse.
— e tu acreditou?
— acreditei porque eu via ele jogando e ele era brabo mesmo. aí a gente não jogava só cs. a gente jogava free fire também. minecraft às vezes. até xadrez um dia ele tentou me ensinar, mas eu achei muito chato. de qualquer forma, ele era um cara muito legal mesmo. você tinha que conversar com ele pra ver. ele falava que ninguém na escola dele gostava de conversar com ele e eu não entendia porque ele era muito engraçado.
— então fala aí uma piada que ele disse.
— ele não contava piada, doido. quer dizer, às vezes contava. mas era mais coisa que… sei lá… que ele falava. tipo, no meio da conversa. a gente falando do jogo e ele soltava uma parada muito engraçada. só tando lá pra ver.
— ouvir né, theo.
— tanto faz, você me entendeu. aí a gente conversava todo dia, sabe? ele me contava várias histórias lá. eu não contava muita porque não tinha muita coisa pra contar. ele dizia que gostava um pouco duma menina da escola dele, mas que ela não dava bola.
— ué, e quantos anos que ele tinha?
— ah eu sei lá. não posso falar minha idade pras pessoas na internet, aí não perguntei a dele também não porque ele não ia poder falar.
— ah tá. e como acabou esse rolo dele com a menina? cabou assim?
— eu não sei. um dia meu pai me perguntou com quem eu tava conversando e, bem, ele não ficou nada feliz em saber que eu não conhecia o kauã pessoalmente. ainda mais porque o kauã era de são paulo, mano. total desconhecido. aí ele mandou a gente parar de se falar.
— caraca, velho. e tu deve ter ficado mó bolado com teu pai, né?
— na verdade, não. eu gostava do kauã, mas não tem ninguém que eu ame mais do que o meu pai. ele é a pessoa mais incrível que eu já conheci e eu amo ele até quando ele briga comigo.
— tá doido. meu pai sempre briga comigo, eu não suporto. não fala nem comigo direito, não dá um bom dia. só vai e briga.
— ah, meu pai não é assim não. ele sempre conversa comigo, joga comigo. e eu obedeço quando ele me manda fazer alguma coisa porque ele é mais inteligente do que eu. e eu sei que ele me ama, então ele não ia me mandar fazer uma coisa ruim. tipo, quando eu tirei nota baixa em ciências e ele me mandou parar de ficar no videogame mó tempão. mas ele estudava comigo direto até eu tirar 8. e ainda estuda comigo.
— rum. meu pai fala pra eu ficar sem jogar, pra sair do celular. mas aí tu vai ver ele: fica o dia inteirinho no celular. não sai nunca. fica lá no facebook ou no zap lá. ele nem deve saber quanto que eu tirei em ciências. nunca me perguntou, aí eu não disse. acho que se eu reprovasse ele nem ia saber.