noite do dia 02/11/19
Eu não mereço nada. Tudo em mim está uma sujeira. Meus pés descalços pisam num chão gelado e cheio de poeira. Tudo ao meu redor me contamina. O mundo jaz numa depravação total e tenta me levar junto. Já nem sei o que há de justo, puro ou bom em mim. Meu pecado me amarra em grossas cordas. Joga-me em locais que refletem a imundície dentro de mim. Eu tento ser boa. Juro que tento. Mas minhas intenções são corruptas. Ações que deveriam salvar outros são direcionadas a salvar a mim mesma. Sequer salvar os outros eu sei. Sequer salvar a mim.
Minhas palavras se perdem em pequenos espaços de tempo. A tentativa falha na mesma medida que eu. Até menos. Meus sentimentos e vontades são confusos. Queria estar só, mas odeio me sentir sozinha. Tudo se aglomera dentro de mim e eu lamento minha condição humana. Lamento minha fraqueza e a frágil estrutura que sou. Qualquer vento poderia derrubar esse prédio, sem que seja culpa do engenheiro nem do vento. De quem é a culpa? De quem é o papel ou a caneta? De que alma se originam tais palavras? Quem as gerou?
Impossibilidades de respostas. Já nem sei quem sou. Perdi-me no meio do caminho; entre tantas direções a seguir, não soube seguir em frente. Perdi o caminho, o mapa, a flor. Secou-se em meu peito. Pois perdi também a água, o pão, a luz.
Perdi-me.
Perdi-Te.