queria dançar
como se o mundo nunca fosse acabar. queria dançar sozinha. pegar-me no colo e girar. como se eu pudesse gostar de mim. como se eu pudesse me apreciar. vontade de rodar e rodopiar tal como uma bailarina ao som de sinfonias do caos. fechar os olhos e me imaginar num grande vazio sem fim com espaço de sobra pra viver. de repente, eu já não sei mais o que é a vida, mas gostaria de tocá-la. gostaria de ser tocada por ela. de cantar canções bonitas que falassem o quanto ela mesma é bonita e me deu um sentido. um vazio que se preenche por nós duas. nunca gostei de dançar, mas de repente senti uma grande vontade de cantar alto e pular pelo meu quarto. esquecendo o resto do mundo, os presidentes, as doenças, os meninos que foram embora da minha vida, os amigos que nunca tive coragem de construir. eu queria dançar no vazio sem fim pra esquecer do grande vazio que assola meu peito. queria dançar num mar gigantesco que pudesse me afogar até eu aprender a viver. um mar gigantesco que nunca me deixasse sozinha. queria dançar e ignorar completamente todas as frustrações e aflições de um mundo tomado pelas corrupções. gritar a plenos pulmões que perderei essa vida que vivo aqui porque encontrei meu lar e meu lar é te seguir. eu só queria dançar porque o resto das coisas da vida me foram tiradas. eu não sei mais viver de outro jeito. eu não sei mais viver levando as coisas a sério. eu sou obrigada a ter maturidade e inteligência emocional por causa dos momentos difíceis que chegaram até mim, mas veja bem, eu só queria estar dançando feito uma criança. brincando feito uma criança que confia plenamente no seu pai e nos seus amigos. cantando feito uma criança que tem certeza de que canta bem e de que está sendo apreciada. se divertindo feito uma criança que só pensa no lápis de cor que se põe a usar pra pintar um desenho sem forma que ela mesma fez. dizem que a vida é cheia de desenhos com formatos rígidos e existentes, mas a criança pinta um desenho sem forma como se a vida fosse isso. eu só queria dançar sem forma nem sentido. viver sem um propósito definido. apenas a confiar no meu pai que com certeza sabe de todas as coisas.