versos do arroz doce
procuro inspiração nas lascas de canela
que recordam-me minha donzela.
as musas abandonam-me
pois, sendo apenas comida,
julgam sem valor minha poesia.
ora, a brevidade da vida…
o temor de um beco sem saída…
dá-me apenas mais necessidade
de cantar essa dor que me invade.
sei que não muito longe
aguarda-me um sem fim abismo.
morrerei, não se sabe onde,
a sós com o meu romantismo.
mesmo a pensar nesse vazio,
meus olhos se enchem de fascínio
ao contemplar minha donzela
dotada d’uma beleza tão perpétua!
mas junto a mim ela nunca vem se assentar;
nossa distância é tão pequena
que vejo-a com outro se abraçar,
expondo sua alegria plena…
por que ao meu lado ela não fica?
para que a sua graça, da mais rica,
possam meus olhos verem de perto?
julgo meu amor tão incerto…
com outro, ela forma tantos pratos
cheios das mais variadas cores;
com ele, ignora todos os meus atos
e não se abre para meus doces sabores.
o brilho de seu óleo é tão belo;
dele eu cuidaria com todo o zelo…
sua forma é da mais esguia;
eu a amaria por toda a minha vida…
se não posso amá-la ao seu lado,
pelo menos em meus versos a farei bendita;
em meu lugar vejo meu irmão salgado,
a completar minha amada batata frita!